INDIGNADA
Como sabem, ontém estive em casa devido á constipação. Estive a ver televisão e percebi que o programa Opinião Pública da Sic Noticias, iria-se debruçar sobre o tema Procriação Médica Assistida. Como me interessa e muito o tema, esperei para ver. O convidado era o Prof. Dr. Alberto Barros, que desde já, caros leitores, informo que nos defendeu muito bem. Porém, não pude deixar de ficar indignada com alguns comentários que por lá apareceram. O mais flagrante foi de um Dr. Moreira, se não me engano no nome, médico, e que, para além de outras questões, referiu que ficava incomodado enquanto contribuinte estar a pagar impostos para pessoas como nós fazer-mos tratamento. Isto porque, segundo o referido Sr. Dr. a maioria dos casos de infertilidade se deve ao facto de termos relações sexuais desprotegidas, nas quais apanhamos infecções pélvicas, que por sua vez causam infertilidade. Caro Sr. Dr. o seu comentário deixa-me completamente nauseada, principalmente por vir de um médico, que deveria ter noção do ridículo da sua conclusão para o problema de infertilidade.
Entrou também em directo o Prof. Dr. Gentil Martins, como um dos mentores do Movimento Pró-Vida, o tal movimento que quer o referendo sobre estas técnicas. Afirmou o referido Prof. que os casais inferteis não tem noção dos tratamento a que se sujeitam. Pois é Sr. Prof. tomara eu não ter já tanta informação médica, que adquiri nestes mais de dois anos e meio de infertilidade, não só da que me foi transmitida pelos médicos a que recorri, bem como, aquela que pesquisei, e ainda, aquela que as minhas companheiras de luta me têm transmitido.
Eu percebo o que este movimento pretende, ou seja, pretende que a nossa legislação seja idêntica à Italiana, que é simplesmente a mais restrintiva em toda a Europa.
Baseiam o seu movimento na preocupação do embriões excedentários, sem perceberem que a maior parte deles não sobrevive, para mal dos nossos pecados. Não percebem que estes embriões congelados apenas servem para que, caso o tratamento falhe, repetirmos o mesmo, sem que despendamos mais dinheiro e principalmente sofrimento no nosso corpo. Simplesmente não entendem. Nem querem entender!!!
Por fim, uma senhora doméstica, de 37 anos, que já deve ter um rancho de filhos, e que deve entender que nós, casais inférteis, somos uma cambada de doidivanas, dizia que iriam de novo regressar os filhos bastardos, uma vez que estes bébés não saberiam quem seriam os seus pais e mães, ou seja, teriam de alterar a legislação, pois tal como antes do 25 de Abril iriam existir os filhos de pais incógnitos. Refiro por importante que esta Sr. também se dizia membro do Movimento Pró Vida.
Eu entendo é que este movimento deveria se chamar Contra Vida, porque o que todos os casais inferteis perseguem é sim a vida, e estes senhores e senhoras simplesmente não entendem o nosso sofrimento diário, a nossa revolta, a nossa mágoa. Já que são a favor da vida, e que se dizem cidadãos activos, deveriam era perceber a nossa luta por melhores condições para o tratamento desta doença chamada Infertilidade. Pois, como o Prof. Dr. Alberto Barros bem disse a Infertilidade é uma doença, e assim, deve ser tratada e assumida pelas entidades governamentais. Fiquei revoltada e indignada de tal forma que acho que nem consegui assimilar tudo o que ouvia. Acho inacreditável que existam pessoas que entendam que nós não temos direito a ter um filho. Por nervosismo não consegui ligar para lá, mas, desde já gostaria de saber se alguém vai ao debate do Projecto Lei na A.R., se a Associação Portuguesa de Infertilidade vai organizar alguma coisa? A minha revolta foi tão grande que estou disposta sair do anonimato, para me deslocar á A.R. com outras companheiras de luta. Quase que aposto que o denominado Movimento Pró Vida irá estar presente, para tentar passar a sua mensagem errada ao povo português sobre este problema, ou melhor sobre esta doença que afecta tantos de nós.